Secretário de Cultura do DF, Bartolomeu Rodrigues, anuncia detalhes do maior programa de fomento do Brasil, que vai distribuir só neste ano R$144 mil
O Distrito Federal é dono do maior programa de fomento à arte do país, com mais de R$ 144 milhões de recursos destinados ao Fundo de Apoio à Cultura (FAC), principal ferramenta de apoio ao setor. À frente da gestão desse orçamento está o secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues, que em tempos de crise sanitária, trabalha muito para movimentar a economia criativa do DF – que representa cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do DF, sendo equiparada ao setor da construção civil.
O gestor explica como distribuiu R$ 53 milhões do fundo e como pretende, agora, repartir outros R$ 91 milhões, liberados em crédito suplementar recentemente. “Vamos suplementar o edital do FAC Multicultural com mais recursos. É um edital que foi pensado para atingir pessoas realmente com carência ou grupos com potencial de crescimento. Enfim, artistas que estavam à margem do alcance dos recursos públicos”, adiantou.
Como a secretaria pretende distribuir esse recurso? Quais são as linhas de financiamento?
Nós queremos que o dinheiro seja empenhado ainda este ano. Soltamos o FAC Multicultural 1 voltado para 22 linguagens artísticas, com reservas de vagas para quem nunca antes tenha acessado o recurso do FAC e para Pessoas com Deficiência. No primeiro semestre deste ano, foram R$ 53 milhões e, agora, vamos suplementar este edital com mais recursos. É um edital que foi pensado para atingir pessoas realmente com carência ou grupos com potencial de crescimento. Enfim, artistas que estavam à margem do alcance dos recursos públicos. Outra parte será utilizada para financiar editais voltados para eventos como festivais. Brasília é uma cidade de grandes eventos e a pandemia está fazendo com que a gente esqueça isso. Vamos reativar esse setor. Uma terceira parte será destinada para um setor que tem dado para nossa capital, status nacional e que praticamente morreu, que é o cinema. Então, também vamos reativar a área do audiovisual. A expectativa é financiar dez longas-metragens para serem executados aqui em Brasília. Sabemos que cada longa-metragem emprega uma multidão de pessoas. Terá linhas voltadas para realização de curtas-metragens, séries e games. Temos linhas específicas voltadas, exclusivamente, para o chamado backstage, aquelas pessoas que trabalham nos bastidores de uma produção. Pensamos até nesses profissionais.
20. Quais as expectativas para o evento este ano?
Será a mesma coisa esse ano. No ano passado, o Festival de Brasília esteve por um triz para não ser realizado. Se não fosse a ação enérgica do governador Ibaneis Rocha, que garantiu recursos para a realização do evento, não ia acontecer. Esse ano, nós nos precavemos. Fizemos o edital público bem antes, onde vários candidatos concorreram e uma Organização da Sociedade Civil já foi selecionada, já trabalhando na realização do Festival, que acontecerá na primeira quinzena de dezembro, sem data certa ainda. Temos informações de que já tem quase 40 filmes inscritos. Agora vamos definir qual o canal de TV, como no ano passado, vai exibir o Festival. Porque o evento ainda não pode ser presencial, já que ainda estamos em pandemia. O Festival de Brasília recebe um público quase como uma torcida do Flamengo, é um evento de muita participação, debate e polêmica. As pessoas não vão ficar comportadas, sentadas nas cadeiras, isso não vai rolar. Então, não vamos correr esse risco. Vamos fazer mais uma vez em plataforma virtual, mas tendo, com o que a tecnologia oferece, a possibilidade de manter o clima de debate, de participação, mesas redondas, como foi na edição passada.
Como a secretaria está se preparando para a festa de fim de ano em Brasília?
Vamos ter festa de réveillon, mas não com gente na rua, público aglomerado, não é o momento. Por mais que as vacinações tenham avançado, não dá para brincar com essa situação. Mas vamos realizar o evento no formato virtual e drive-in, em cinco regiões administrativas e com atração de fora da cidade.
Essa preocupação se entenderá para encontros populares como o carnaval e a festa junina?
Este ano vamos ter recursos para colocar nas escolas de samba e blocos carnavalescos, mas não para fazer carnaval, mas para realizar atividades, cursos de capacitação e projetos envolvendo pessoas que trabalham com fantasia. Aliás, neste mês de setembro vamos realizar um seminário com todo o pessoal do carnaval para recebermos sugestões, propostas de ideias. Com a festa junina vai acontecer como foi este ano, quando patrocinamos vários grupos de quadrilha, mas não no formato de quadrilha tradicional. Fizemos o festival de quadrilha obedecendo aos protocolos de segurança, com quantidade menor de pessoas, distanciamento.
Este ano o GDF devolveu para a população o Museu de Arte de Brasília [MAB], um investimento de mais de R$ 9 milhões. Um belo presente para cidade que ansiava pela volta desse espaço cativo da cultura local…
O MAB valorizou demais. O MAB tem sido uma grata surpresa para nós. Nós colocamos um modelo tão eficiente lá que a população abraçou o espaço com um carinho tão grande que me surpreendeu. A receptividade com que ele foi recebido na cidade foi uma coisa fantástica e serviu para nos estimular a fazer projetos para aquele setor que estamos chamando de Complexo Cultural Beira Lago e envolve a Concha Acústica, que está exibindo filmes. São locais que viraram point da capital.
Em que pé está a reforma do Teatro Nacional?
O que impediu de nós iniciarmos as obras até o momento tem sido o trabalho para atualizar o projeto que foi feito no passado, com as exigências no presente. Em outras palavras, estamos esse tempo todo, desembaraçando questões jurídicas que envolvem o financiamento da reforma do Teatro Nacional. Posso dizer que está na fase final desse processo, com muito otimismo para que a gente possa lançar o edital ainda este ano de restauração do espaço. Há uma expectativa de entregarmos a Sala Martins Penna para a população no ano que vem.
Como está a reformulação da Rádio Cultura?
A Rádio Cultura está passando por uma revolução. Nós conseguimos recuperar a Rádio Cultura. Neste momento, estamos trabalhando no gerenciamento do espaço, pensando como será o formato que daremos a estação. E isso é coisa para breve. Nós a equipamos e agora vamos trabalhar a embalagem, o conteúdo da nova Rádio Cultura. Se tiver até que mexer no nome a gente vai mexer. A nossa preocupação agora é como gerir aquilo dali de uma forma que seja uma rádio pública, mas que possa entrar no mercado como se fosse uma rádio comercial. Vai ter mais gente para trabalhar lá, para ajudar a equipe guerreira já existente, que vem mantendo o lugar esse tempo todo quase que nas costas, porque a Rádio Cultura foi sucateada. Ela era um exemplar do descaso do estado em relação a uma emissora pública.
Como vai a parceria com as pastas de Turismo e Governo para revitalização da W3?
Temos projetos no FAC Multicultural da ordem de R$ 300, que vai contribuir bastante com o projeto de revitalização da avenida. Além disso, vamos grafitar 33 pontos de ônibus ao logo da W3 Sul. Um trabalho de grafitagem parecido com o que fizemos na Galeria dos Estados. A ideia é despertar o interesse das pessoas para esse corredor turístico cultural. Aliás, na Galeria dos Estados as pessoas estão se encontrando para fazer book de fotos. Isso é bacana, é bonito. Meu sonho é deixar esse legado também, ou seja, fazer de Brasília, a capital brasileira do grafite. Hoje, temos muito mais de uma centena de grafiteiros e grafiteiras cadastrados no comitê do grafite da secretaria.
Há previsão de reabertura do Cine Brasília?
Sim, agora na primavera, como está acontecendo com as outras salas de cinema da cidade. Obedecendo aos protocolos de segurança, com distanciamento entre as pessoas, essas coisas.
Como o governo dialoga com a classe artística da cidade?
Esse gabinete está sempre de portas abertas. Ouço todos os segmentos da cultura sem discriminação, estamos abertos a todos os setores. É com diálogo que se constrói, aprendi isso aqui. E nesses diálogos sempre vem muitas ideias boas. Um exemplo: esse FAC, que não é produto da nossa cabeça. Ele é produto justamente de toda essa discussão de pessoas que chegam aqui e dão sugestões. Que ninguém pense que as ideias ficam paradas no ar, não. A gente toma nota, vê se tem condição de implementar e fazemos. A cultura é isso, ela é dinâmica, é polêmica e sempre vai ter crítica. O estado tem que dar o suporte, a força, mas não para sustentar. Você tem que dar as condições para o artista trabalhar e mostrar sua arte.
*com informações da Agência Brasília.